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  • Foto do escritorCarolina Chedraoui

A saúde da Mulher


Símbolo utilizado pelo grupo de mulheres que se reuniam na década de 70 no Brasil.

Nesse mês de outubro, com a campanha de outubro rosa, escolhemos o tema de saúde da mulher, para contar um pouco para vocês como foi a trajetória da luta pelo direito a saúde da mulher até os espaços que conhecemos hoje.


Assim trazendo um panorama histórico, a saúde feminina inicialmente, era considerada apenas no período da gravidez. No meio da década de 70 o movimento em prol da saúde da mulher inicia-se com a influência das experiências do feminismo internacional e com a criação de diversos grupos e organizações não governamentais, compostos principalmente por mulheres e se tornou um grande movimento popular que buscava os direitos femininos em relação à saúde.

1° Encontro Nacional de Saúde da Mulher em Itapecerica da Serra – São Paulo 1984

As mulheres solicitavam a democratização do atendimento médico e a consideração do conhecimento das mulheres em relação ao seu corpo, reivindicavam o direito ao acesso universal à saúde e aos cuidados médicos.


Em 1984 foi realizado o 1º Encontro Nacional de Saúde da mulher, onde participaram mulheres e trabalhadoras da área da saúde, que discutiram diversos temas como laqueadura, câncer mamário, câncer períneo, planejamento familiar, aborto, violência, universalidade do atendimento entre outros assuntos que definiram a Carta de Itapecerica com as reivindicações das mulheres para a saúde.



“O papel sexual e reprodutor imposto à mulher pela sociedade, que a exclui das decisões sobre o seu próprio corpo, faz com que tenhamos problemas específicos de saúde. Por isso exigimos um programa de saúde integral para a mulher envolvendo todos os seus ciclos biológicos: infância, adolescência, juventude, maturidade, menopausa e velhice concretizados na sua especificidade sexual (menstruação, contracepção, gravidez, parto, aleitamento, infertilidade, doenças venéreas, prevenção do câncer ginecológico e de mama, saúde mental e algumas doenças mais comuns), tudo isso integrado com a prevenção e tratamento das doenças relativas à sua inserção concreta no sistema produtivo, seja como trabalhadora e/ou dona de casa (Carta de Itapecerica - 1984 )."


O governo então cria o programa de Assistência Integral a saúde da mulher (PAISM) e dia 1° de dezembro de 1986 a Lei n° 5.447 é institucionalizada pelo o CECF – Conselho Estadual da Condição Feminina, que criou a definição de Hospital especializado na saúde e no bem-estar da mulher, e que com o decorrer dos anos se estabeleceu a estrutura que conhecemos hoje.


Um dos primeiros projetos a colocar em prática o conceito de Hospital da Mulher foi o Hospital Cruzada Pró-infância, mais conhecido hoje como Hospital Perola Byington que foi inaugurado 1959.


O projeto realizado pelo arquiteto Rino Levi com a colaboração do arquiteto Roberto Cerqueira Cesar e a consultoria hospitalar do Dr. Odair Pacheco Pedroso, contemplou um programa funcional que abrange ambulatório, puericultura, maternidade, hospital infantil com os anexos necessários e a direção central da Cruzada Pró- Infância. O hospital conta com uma capacidade de 107 leitos para a maternidade e 159 leitos no setor infantil, com um total de 266 leitos.


Figura 1. Exemplo de ambiente de saúde sem planejamento das sensações dos usuários.
Hospital Cruzada Pró-Infância - Arquiteto Rino Levi - Fonte: https://arquivo.arq.br/projetos/hospital-da-cruzada-pro-infancia

Então é a partir desse hospital de referência à mulher, que os estabelecimentos focados na saúde feminina passam a ter uma série de setores e unidades para o apoio em todos os estágios da vida das mulheres.


Atualmente os centros voltados para a saúde da mulher realizam atendimento médico-hospitalar especificamente no tratamento de câncer ginecológico e mamário, reprodução humana, planejamento familiar, esterilidade, urologia, sexualidade, acompanhamento às mulheres vítimas de violência sexual, pré-natal de alto risco e realização de parto e pós-parto com palestras informativas sobre procedimentos e prevenções incorporando sempre o protagonismo da mulher.


O hospital passa então a ser um ambiente de apoio, e segurança, onde a mulher tenha confiança e se sinta acolhida e que possa realizar um acompanhamento que possibilite seu retorno para uma vida com qualidade.

American-Sino Hospital, Audong Clinic Beijing, China - Fonte: https://architizer.com/projects/american-sino-hospital-audong-clinic/

Analisando a experiência que a mulher passa desde o diagnóstico até o tratamento se faz necessário que o ambiente auxilie de forma a fazer diferença na vida dessa paciente, melhorando as características ambientais e a relação com todos que participam desse contexto, como rede de apoio e profissionais.


De acordo com a Enfermeira Mariana Borges que trabalha na Unidade Obstétrica do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto o tratamento da mulher, dependendo de sua abordagem pode ter grande influência no psicológico, como a cirurgia de câncer de mama, que sempre que possível tenta preservar sua forma, entretanto pode abalar a imagem e noção de feminilidade, ou o uso de quimioterápicos que pode ter como consequência a queda capilar durante o tratamento, entre outros procedimentos invasivos que podem gerar alterações no corpo da mulher e no seu psicológico, mostrando a necessidade de uma rede de apoio familiar e de mulheres que passam pela mesma situação.

Portanto o ambiente físico não pode ser mais um fator estressante para os pacientes e envolvidos, dessa forma a arquitetura tem um papel fundamental que é auxiliar para a comodidade, dignidade, e conforto em todos os estágios, desde o diagnóstico até o fim do tratamento.


Para que isso seja possível a humanização se torna uma ferramenta importante para o auxílio desse tratamento e para melhores condições de trabalho no ambiente hospitalar. Segundo Gappell, que estudou a psiconeuroimunologia, o bem-estar físico e emocional do ser humano recebe influência de seis fatores: Luz, cor, som, aroma, textura e forma. O espaço com esses elementos recebe um impacto tão forte no psicológico e no físico dos usuários, que um projeto na área da saúde que aplica esses fatores de forma adequada, pode influenciar no tratamento do paciente.

Hospital Infantil Neumours - Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/01-163632/hospital-infantil-nemours-slash-stanley-beaman-and-sears

Roger Ulrich realizou um estudo que concluiu que quando os pacientes não têm autonomia no ambiente podem causar na maioria dos pacientes, aceleração do batimento cardíaco, aumento da pressão arterial. Assim, o ambiente hospitalar que traz mais autonomia para o paciente, mesmo que com pequenos detalhes como deixar ao seu alcance controladores de luz, telefone, rádio, televisores aumenta a sensação de segurança e otimiza o trabalho.


Extensão do Hospital Lauseanne - Utilização de cores e obra de arte trazendo distrações positivas para os usuários. Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/783685/extensao-do-hospital-unviersitario-de-lausanne-meier-plus-associes-architectes

Portanto ambiente destinado à saúde da mulher deve além de levar em consideração as necessidades funcionais de seu programa, deve considerar as necessidades humanas, as sensações geradas através do ambiente proporcionando distrações positivas, a partir do uso de iluminação, cores, formas, sons, aromas, relação interior/exterior, acessibilidade e autonomia.


E para você como deveriam ser os espaços de saúde feminina? Nos conte um pouco da sua experencia.


Esse texto é uma homenagem a todas as mulheres e familiares que lutam contra o câncer de mama, em especial a minha avó, que aguentou forte até seus 92 anos e hoje deixa saudades.

A prevenção é o melhor caminho! Outubro Rosa.


Arquiteta Carolina Chedraoui

Quer saber mais, entre em contato e teremos o prazer de ajudar como pudermos.

Obrigado pela leitura!

 

Fonte:

CARTA DE ITAPECERICA – 1954. <Carta de Itapecerica 1984 (redesaude.org.br)> Acesso em 06 de out.2022.


LABRA, Maria Eliana. Mulher, saúde e sociedade, Vozes , 1989.

BITENCOURT, Fábio. Arquitetura ambiente de nascer, reflexões e recomendações projetuais de arquitetura e conforto ambiental, 1ª Edição - Rio de Janeiro: Rio Books, 2008


CAVALCANTI, Patrícia Biasi. A humanização dos ambientes de saúde: Atributos ambientais que favorecem a apropriação pelos pacientes, 2009 Trabalho de Doutorado, FAU-USP.


CECF, Conselho estadual da condição feminina, São Paulo. Disponível em: <http://www.condicaofeminina.sp.gov.br/portal.php/hist > Acesso em 28 nov.2016


PÉROLA Byington, Centro de referência de saúde da mulher, São Paulo. Disponível em: <http://www.hospitalperola.com.br/o-hospital.php > Acesso em 28 nov.2016


VASCONCELOS, R.T.B. Humanização de ambientes hospitalares: Características responsáveis pela integração interior/exterior. 2004. 177f. Dissertação pós-graduação -Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.




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