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  • Foto do escritorEduardo Nishitani

Arquitetura e a Saúde Mental

Não, você não leu errado caro leitor ou leitora, arquitetura pode sim colaborar para a saúde mental de seus usuários de formas que vão muito além de um edifício esteticamente agradável. A arquitetura pode influenciar não apenas na saúde e no comportamento humano, como também no modo como nosso organismo funciona bem como em nossa coletividade social.

Segundo estudiosos como Juhani Pallasmaa, a arquitetura excessivamente visual que vivemos hoje surge e se consolida em uma resposta às necessidades de satisfazer os estímulos visuais necessários, que desenvolvemos a partir do momento em que as mídias visuais dominaram os sistemas como fotos, vídeos, textos e etc... antes da “arquitetura instagramável” vivia-se a era da arquitetura de se ouvir, quando os conhecimentos eram passados de geração a geração através de histórias faladas


Arquitetura de se ver, não significa arquitetura de se viver ou arquitetura de se habitar. A preferência visualmente estética, atualmente magnificada pela artificialidade das mídias sociais, muitas vezes acaba por sacrificar sensações como texturas, qualidades térmicas e sonoras, cheiros dentre muitas outras sensações. Arquitetura que estimule a todos os sentidos, ou a arquitetura deixa de existir para os cegos, por exemplo?



Em livros como “The ArchitectureofHappiness” de Alain de Botton, discute-se quais são as virtudes da arquitetura como um todo e se a arquitetura e a nossa percepção sobre ela mudam a cada “revolução estética”. E mais uma vez, estudos como a Neurociência e o Comportamento Humano, Neuroarquitetura dentre muitos outros, explicam o modo como nosso organismo reage aos estímulos externos, ou até mesmo, mudam nosso código genético através da epigenética.

Sendo assim, considerar que a arquitetura influencia na saúde mental apenas oferecendo barreiras de segurança como corrimões e guarda corpos, seria demasiadamente leviano. Mas então, em que mais a arquitetura colabora com os nossos mais impalpáveis, porém vigorosos sentimentos? É evidente que a arquitetura não atua diretamente no processo de qualificação da saúde emocional como a área assistencial de um hospital que chama cada paciente de um hospital pelo nome, por exemplo, porém, o mesmo além de oferecer suporte para que cada uma destas ações sejam possíveis, os espaços atuam silenciosamente nos bastidores das sensações que, muitas vezes, gera a diferença percebida entre um ambiente de qualidade, e outro não.

Figura 1. Exemplo de ambiente de saúde sem planejamento das sensações dos usuários.
Fonte:https://www.google.com/search?q=corredor+hospitalar&sxsrf=ALiCzsYzcOctkYeRuKh3IisJKaKUrZlwrA:1662383900460&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=2ahUKEwiywvfO3v35AhW-rJUCHXf1APUQ_AUoAXoECAEQAw&biw=1536&bih=754&dpr=1.25#imgrc=MZj5eJ2doa710M

Fonte:https://www.architonic.com/en/project/rafael-de-la-hoz-arquitectos-rey-juan-carlos-the-new-hospital-of-mostoles/5101873

Existem alguns tópicos a serem considerados quando buscamos entender qual a arquitetura que colabora com as nossas emoções:

  • A morfologia e suas características físicas bem como o layout podem modificar por completo nossa percepção do espaço.

  • A luz e as cores podem gerar sensações específicas desejadas para cada caso.

  • O som, cheiros, tato e outros sentidos devem ser atendidos e continuamente estimulados.

  • A relação entre interno e externo proporciona uma sensação de amplitude para os ambientes



  • Condições e conceitos como privacidades e individualidades a serem respeitados de forma a garantir segurança e independência a todos os usuários, garantindo que o mesmo se coloque mais vulnerável do que já está apenas em situações onde se sinta seguro e acolhido. Além disso, garantir a privacidade e a segurança aos colaboradores é essencial para garantir que os usuários sejam plenamente beneficiados por este conjunto.

  • E o conforto, não apenas pelo conceito de alívio e acolhimento, mas também, pela possibilidade de garantir que o espaço seja utilizado de forma flexível e eficiente. As pessoas poderem controlar os ambientes conforme as suas necessidades específicas é um grande passo.

  • Ética social e filosófica perante as considerações coletivas de uma sociedade que utilizará o espaço como um todo.

  • Humanização do espaço, por mais redundante que seja a terminologia, considera o ser humano como o centro do objeto de estudo, torna tudo mais claro ao se desenvolver espaços saudáveis.

Na arquitetura voltada para a saúde não é diferente, em hospitais, por exemplo, onde as pessoas estão fisicamente debilitadas e emocionalmente fragilizadas, o espaço deve responder de forma a acolher, permitir e estimular não apenas o equilíbrio de cada um, como também, redirecionar o foco ao processo de cura assim como permitir que a pluralidade do uso deste espaço seja respeitada, de forma que desde o mais frágil paciente pediátrico ao mais ávido residente de medicina possam usufruir do espaço da forma adequada e eficiente.

Fonte: https://www.archpaper.com/2019/11/safdie-architects-designed-changi-airport-jewel-is-enclosed-by-a-sprawling-toroidal-dome/

Estudos cada vez mais profundos mostram que o espaço, a arte e nosso estado emocional afetam nosso sistema biológico das formas mais variadas possíveis. Das mais simples somatizações às complicações de psiconeuroimunologia, nossa fisiologia trabalha diretamente ligada ao nosso estado de saúde mental. Estudiosos como a Dra. Nise da Silveira, o Dr. Hunter Doherty "Patch" Adams e o próprio pai da medicina, Hipócrates reforçam os pontos que cada vez mais, se faz necessário olhar o doente antes de olhar a doença.

Sendo assim, qual espaço as pessoas enfermas precisam? Como são os ambientes que pessoas que cuidam de pessoas necessitam?

E você? Como fica quando adoece ou quando um dos seus se encontra debilitado? Você possui algum lugar ou espaço que lhe trazem segurança e acolhimento? Como ele é?

Deixe aqui sua experiência!


Arquiteto Eduardo Nishitani

Quer saber mais, entre em contato e teremos o prazer de ajudar como pudermos.

Obrigado pela leitura!

 

Fonte:

BOTTON, Alain de. The Architecture of Happiness, Vintage International, 2008.

PALLASMAA, Juhani. Os olhos da pele. A arquitetura e os sentidos., Bookman, 2011.




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